Recentemente, Renata, minha esposa, narrou-me uma coisa engraçada. Quando ela ainda encontrava-se grávida de nosso segundo filho, contava uma estorinha para Arthur dormir. Sutilmente e com muita gentileza, Tuthuio levantou as mãos pedindo que sua mãe falasse mais baixo. Tanto ela como eu (que não estava presente) achou um gesto de extrema finesse de nosso filho.
Então resolvi compartilhar isso, que para mim, é muito significativo. Como pode uma criança com menos de dois anos de vida ter percepção tão apurada a ponto de compreender e ter sensibilidade de perceber que aquele ato poderia estar incomodando o feto no ventre da madre, tão divinamente amparado?
Mas Thutuio estava certo. Não que os sons estivessem atrapalhando o feto, mas que ele é capaz sim de ouvir os sons do mundo exterior. Até o século passado, muitos médicos achavam que o útero era uma capsula acusticamente isolada do mundo. Mas experimentos feitos por obstetras ainda nos anos de 1970, a partir de microfones introduzidos no corpo das gestantes, concluíram que os sons chegavam, sim, até o interior do útero. Essas e outras dúvidas foram esclarecidas em reportagem publicada pela revista Isto É, em 1998.
Outros experimentos feitos com hidrofones (microfones que funcionam em meios líquidos) reforçaram as conclusões anteriores de que as conversas de fora poderiam, sim, ser ouvidas, mas os sons eram atenuados pela gordura e tecidos da mãe. Outra novidade, apontada pela reportagem, é que vozes graves, como a masculina, também chegavam até o bebê. Então, papais, não precisam ficar constrangidos de falar com seus futuros filhos. Eles podem ouvi-los, com certeza.
Depois do quarto mês de gestação, vários sentidos já foram desenvolvidos pelo feto. Ele reage aos sons, ao toque e começa a se habituar a ouvir as vozes materna e paterna. Sendo assim, Arthur nos alerta para conversarmos com carinho. Isso nos ensina e faz refletir também sobre a qualidade desses diálogos que chegam até o bebê ainda no útero. Ainda não se sabe o quanto ele pode aprender lá dentro. Mas não há dúvida de que, ao sair, depois de nove meses, trará consigo as impressões iniciais desse período.